Doses De Prosas E Versos

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Local: Vitória, E. Santo, Brazil

Apenas alguém que brinca de ser poeta. Site onde publico: http://www.recantodasletras.com.br/escrivaninha/

sexta-feira, novembro 30, 2007

Ler & Escrever


Ler ou escrever. Não sei o que eu gosto mais. Conheci o mundo das letras com mais ou menos quatro anos, quando minha mãe leu para mim os primeiros gibis. Todas as noites ela ficava longas horas ao meu lado, na minha cama. A cada história eu me emocionava e desejava ouvir mais e mais. Eu dormia embalado pela sua voz dando vida aos personagens.

Em casa, eu também tive os exemplos do meu pai e da minha avó. Meu pai gostava de ler o Jornal do Brasil. Ele admirava os textos de Jose Carlos de Oliveira .(1934 - 1987), jornalista e cronista, natural de Vitória(ES), dono de uma escrita lírica, sarcástica, debochada e irreverente. Ele sem dúvida, foi um dos nossos melhores cronistas. Além disso, meu pai tinha o hábito de ler e declamar poesias.

Minha avó costumava ler em voz alta, sentada na cadeira de balanço que hoje conservo na minha varanda, todas as mazelas da cidade publicadas no Jornal A Gazeta.
Quando aprendi a ler, debrucei – me nas páginas do livro “ Tesouro da Juventude. Daí em diante não parei mais. Hoje leio até bula de remédio. E não é só por força da profissão! Como tudo isso, penso que Freud explicaria o meu amor pelo livro: Ele tem o sabor , textura e o cheiro do afeto, carinho e da infância.

Hoje, saboreio cada palavra e vírgula como quem sorve um bom vinho. Aprecio a sintaxe, o modo de construir uma oração, a riqueza das expressões e a beleza do verbo em seu devido lugar.

Na minha opinião, o livro é algo mágico e encantador. Em suas páginas sinto- me como nos braços da amada. A cada leitura e releitura de um texto, encontro sempre um mundo para se viajar, sonhar e amar.

O ato de escrever surgiu em minha vida como uma necessidade, um transbordamento. Escrevo o que em mim é urgente, o que me assusta; para soltar as feras, liberar os demônios; encontrar anjos e expressar saudades e desejos.

Com certeza quando os sentimentos ficam à flor da pele, não há nada melhor do que sentar e escrever, escrever...

Enfim, escrevo para viver, morrer um pouco menos a cada dia e ser feliz.


Texto :Roberto Passos do Amaral Pereira
Imagem ; www.cm-sintra.pt

quinta-feira, novembro 22, 2007

Tarde Com Sabor De Lua


Tarde de chuva
Lembranças de cheiro de terra molhada da infância
Íntimos momentos
entre livros, Cds, revistas e versos de Pablo Neruda.
A rua se faz vazia
pois desfila poesia em nosso encontro
Um vinho tinto no ponto
A dança dos seus olhos nos meus
Sua deliciosa fragrância
A elegância dos seus gestos
O gosto dos seus lábios nos meus
A presença de um deus adolescente do amor
Contentes,
Vivenciamos uma tarde de chuva
com sabor de noite de Lua.

Texto : Roberto Passos do Amaral Pereira
Imagem : fernandomarques.wordpress.com

segunda-feira, novembro 19, 2007

Amanhecer De Primavera


Da minha janela
amanhece primavera,
feito uma mulher de rosto meigo,
belas pernas,
seios de textura de pêssego maduro,
alma de conto de fadas,
cheiro de sol e brisa
e olhar de poesia.
Como uma diva,
traz no peito flores
que desabrocham ao toque do seu amor.
Assim se faz primavera
com todas as cores
dentro de mim.


Texto: Roberto Passos do Amaral Pereira
Imagem : instintos.blogs.sapo.pt

domingo, novembro 18, 2007

Violão


Quando abraço o violão
sinto em minhas mãos
a forma da cintura
de minha mulher madura.

Quando meus dedos tocam
as cordas do violão,
crio notas, acordes, melodia,
sinto a harmonia dos teus traços.

Quando ouço a canção,
vem a emoção
de tua voz dentro de mim.
Somos então,
eu e meu violão,
a lembrarmos de ti.

Texto: Roberto Passos do Amaral Pereira

Sonhado Passeio


Repouso meus olhos carregados de ausência e saudade
nas páginas do livro Cem Sonetos de Amor,
de Pablo Neruda
enquanto aguardo uma nova fase da lua
para saborear sua presença,
criando poemas
desnudando com doçura,
feito cena de cinema,o meu coração.
Lágrimas de ternura rolam em minha face
misturam - se com os meus beijos
formam uma canção de pura fantasia.
Vem o desejo de contornar com os meus dedos
seu corpo inteiro
desalinhar com jogos de sedução seus cabelos
ter o aconchego do seu sorriso
o abraço colorido do seu olhar
e sem medo
viver com emoção
esse sonhado passeio de amor.


Texto: Roberto Passos do Amaral Pereira
Imagem: www.siciliano.com.br

sábado, novembro 17, 2007

Pensamento Ao Piano


Ao enegrecer de uma tarde,
um homem desliza seus dedos,
nas teclas de um piano.
Revive enganos,
beijos, sonhos.
Seu olhar passeia entre a lua e as estrelas;
seus pés caminham descalços,
na areia da praia da saudade,
banhando- se de azuis vontades:
Do aconchego,
do revelo do corpo,
cores, cheiro,
maresia e musicalidade,
de seu poema de mulher.

Texto: Roberto Passos do Amaral Pereira

Corpos & Sonhos


Dois corpos
Um jantar à luz de velas
Duas taças de vinho
Brindando o encontro
Anjos versando poemas
Arranjo de flores do campo.

Dois corpos
Sonhos
Palavras amenas
Sussurradas ao pé do ouvido
Sorrisos
Suspiros.

Dois corpos
Um cheiro de mar
Uma chuva fina na vidraça
Olhos nos olhos
Um solo de saxofone
Uma dança de rostos colados
Depois,abraçados
Pernas entrelaçadas.
Orvalhado de amor
Deixam- se levar pela emoção...

Texto: Roberto Passos do Amaral Pereira.
Imagem: homensmodernos.wordpress.com

sexta-feira, novembro 16, 2007

Não Sou Poeta


É bem certo
que não sou poeta,
apenas rabisco alguns versos
no universo das folhas de papel,
como quem planta sementes de esperança.
Desejo somente que eles molhem os olhos,
caminhem nas linhas e curvas,
e dancem nos lábios
da mulher amada,
e que por alguns instantes
sejam meus amigos,
e juntos comigo,
por algum instantes,
espantem a saudade
que se agiganta em meu peito.


Texto: Roberto Passos do Amaral Pereira
Imagem: linafuko.wordpress.com

Umbigo Dos Sonhos


Mergulhe em meu olhar,
esqueça o mundo lá fora,
venha em meu peito morar,
compartilhar
pequenas vontades,
matar saudades
de tempos não vividos,
do amor que andava escondido,
no umbigo dos sonhos de nós dois.


Texto: Roberto Passos do Amaral Pereira
Imagem www.gerolino.blogger.com.br

50 Anos


Quando chegamos aos 50 anos, dizem que dobramos o Cabo da Boa Esperança, ou que estamos na idade do lobo. Ouço também, que alguns poucos ficam loucos de raiva. Sentem como se uma navalha lhe cortassem a face.

Quando se é jovem,carta de amor é telegrama; sucesso é fama; drama é fogo de muitas chamas; amar é beijo fácil de novela; qualquer coisa assanha; valsa termina em samba.

Na meia - idade tudo é diferente. A vida tem outros sabores, cores e texturas. Já não temos algumas inseguranças. Podemos até ser um pouco criança com menos riscos de sermos ridículos. Hoje, cinqüentão, eu acredito nisso. Eu ainda sou um menino atrevido, faceiro; xingo a mãe do vizinho; como cidadão tenho dores de ouvido, principalmente em época de eleição.

Brinco na rua de chinelo de dedo; busco a lua; contos estrelas; falo besteiras e mergulho no mar dos meus desejos.

Durmo sem travesseiro, com o rosto colado na cama dos meus sonhos e pesadelos.

Duvido e brigo com a sorte; driblo a morte; construo castelos com doses de momentos mobiliados por gestos e olhares, que guardo a sete chaves em meu coração.

Rezo com uma só mão. Na outra, trago o perdão. Assim, tenho menos solidão e crio laços de grandes e duradouras amizades.

Às vezes, preciso ser um pouco fino, me equilibrar na corda bamba e encarar desafios. Só não vivo no meio – fio, à margem do rio da vida.

Faço exercícios – flexões, mas prefiro exercitar a mente - reflexões.

Gosto do amor desmesurado; de um sorriso de olhar meigo, encabulado; do dorso desnudo da mulher amada em um decotado vestido; de um vinho tinto que me faz sonhar com o amanhã; de um vento bem – humorado, acariciando meu rosto e do cheiro das manhãs.

Tenho poucas vaidades, algumas manhas e saudades. Sonho acordado. Namoro o mar, amo os abraços apertados dos meus filhos, mesmo nas horas em que pedem meu carro emprestado.

Transbordo alegrias quando contemplo flores debruçadas nas sacadas das janelas. Vejo poesia na chuva fina batendo nas vidraças.

Sinto - me como um pássaro, no bico a paz, voando em um mundo colorido de possibilidades. O que posso desejar mais?


Texto Roberto Passos do Amaral Pereira

domingo, novembro 11, 2007

Fragmentos De Sábado


São 7. 15 da manhã. Cheguei agora de mais um plantão noturno no pronto- socorro do maior hospital infantil do meu estado. Felizmente não foi muito agitado, porém fiquei acordado das 2 às 5 da manhã, como vê, sobrevivi.

Abri a porta da minha casa e minha cadela ( da raça Shih tzu) me saudou com um frenético balançar de rabo, e pulou nas minhas pernas num longo e caloroso abraço. Meus filhos dormiam nos quartos. O menino parecia um anjo, e a menina a bela adormecida, aguardando o beijo de um príncipe encantado ( o que hoje está cada dia mais difícil).

Liguei para o porteiro e pedi que colocasse o jornal no elevador. Como de hábito iniciei a leitura do jornal pelo Caderno Dois "" Viana em letras e Cores" dizia a primeira página! Fiquei feliz em saber que o município onde trabalhei como médico por quase 10 anos, agora, além da saúde, " revê sua história com inauguração de galeria de arte e casa de cultura". Depois li a crônica do dia. Deixei a leitura das mazelas do Brasil por último.

Abri o meu e-mail e soube que a oficina de crônica foi suspensa. Provavelmente acontecerá na próxima semana, num restaurante. Confesso que gostei da idéia. Com chopp e tira- gostos a conversa flui melhor.

A seguir fui para o meu recanto de repouso: minha rede na varanda. Coloquei um Cd preferido e logo me vi nos braços de Orfeu. Ao meu lado a cadela sempre companheira. Tive um sono delicioso. Acordei relaxado. Após alguns minutos, minha filha me convidou para ir à praia. Mergulhei no mar, tomei uma água tônica ( após plantão não bebo cerveja) e comi um delicioso pastel de camarão.

Fiquei totalmente relaxado e revigorado para mais um plantão noturno, esta noite.

segunda-feira, novembro 05, 2007

Cenas De Uma Cidade


Apesar de segunda- feira, definitivamente não era uma manhã qualquer.Era o meu primeiro dia de férias, após vários anos sem tirar folga. Assim, sai de casa cedo e segui para uma caminhada pela orla da cidade.

As pessoas estavam agitadas e seguiam apressadas para o trabalho, visivelmente atrasadas, talvez provocadas pelo horário de verão. Depois de uma hora, um pouco cansado, sentei num banco. Uma brisa suave acariciou o meu rosto. Olhei para os meus pés e observei o quanto eles estavam comprimidos e inchados, fruto das longas horas confinados num sapato durante o trabalho. Agora livres, eles se sentiam aliviados e felizes.

Distante, em outro banco, vi o vulto de um homem sentado de de pernas cruzadas, ombros encurvados, mãos sobre o joelho e com olhar distante e vago. Aparentava mais ou menos 65 anos. Ao seu lado, um casal de jovens se beijavam e se abraçavam como se estivessem sentados no sófa de suas casas. Absorto, ele praticamente não os notava. Fiquei então imaginando o que ele estaria pensando. Relembrava sua juventude, seu trabalho, seus momentos de boêmia ou sua esposa falecida? Estaria talvez com problemas financeiros devido a baixa aposentadoria? Continuei observando– o de longe e vi que o casal se afastara, mas ele continuava estático,com em transe e muito longe dali.Até um cão que passseava com o seu dono, cheirou os seus pés e ele não reagiu.

Comovido e preocupado com a cena, decidi então ir ao seu encontro. Pensei em conversar, trocar, idéias e ouvir a sua história de vida e se possível ajudá-lo.

Ao chegar bem perto, qual foi a minha surpresa. O senhor que eu tanto observei e havia me preocupado, não era mais do que uma bela estátua de bronze de tamanho natural feita em homenagem ao centenário do grande poeta Carlos Drumond de Andrade. Soube depois que vindo da cidade mineira de Itabira, era ali que ela passava as suas tardes.

Surpreso, dei uma boa risada. Realmente um fato inusitado com esse, só poderia acontecer na cidade do Rio de Janeiro.



Texto: Roberto Passos do Amaral Pereira.
Imagem: blog.simplesnet.pt/archive/sokedih.PT_051.jpg

domingo, novembro 04, 2007

Um Poema De Vida


Uma mulher se faz menina,
quando brinca de roda,
amarelinha,
pula- corda,
pergunta ao bem - me - quer
e ao mal -me- quer,
conta nos dedos seus desejos,
ri do próprio cabelo de " maria- chiquinha",
faz guerra de travesseiro,
aprende quando ensina,
sonha com beijos o dia inteiro...

Uma mulher se faz menina,
quando seu vestido florido e rendado
evidencia cenas bordadas de alegria,
e sua anágua esconde as mágoas.

Uma mulher se faz menina,
quando caminha fora da linha do trem,
sorri como ninguém,
atravessa a ponte da realidade,
busca o monte de sonhos debaixo do arco- íris,
acredita em anjos,
e cresce com os enganos.
Assim, sonhando e planejando cada cena,
além de menina,
essa mulher também se faz poema.


Autor do texto. Roberto Passos do Amaral Pereira.
Imagem :gabrielmachado.wordpress.com