Viver É Saber Sonhar
Texto: Roberto Passos do Amaral Pereira
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Apenas alguém que brinca de ser poeta. Site onde publico: http://www.recantodasletras.com.br/escrivaninha/
Estou aqui, assustado em meu mundo. Pessoas conversam, gesticulam, porém não me dizem nada. O sol já não tem a intensidade suficiente para acalorar minha alma, e a lua, o brilho para iluminar meus pensamentos. O meu coração não tem porque bater. Nada faz sentido. Estou paralisado de medo e insegurança. Mas quando tudo parece perdido, visualizo uma porta entreaberta dentro de mim. Com uma força até então inconsciente, caminho para esse mundo. Prazerosamente vou reconhecendo paisagens, objetos, móveis e pessoas, enfim, tudo vai ficando docilmente familiar.
Agora, do quintal da minha infância, à sombra de um parreira, ouço gorjeio de canários belgas, enquanto sinto o cheiro gostoso do bife acebolado e do arroz avermelhado de tomate, que somente meu avô sabia fazer. Desenho numa folha qualquer, tendo comigo sua mão amiga e firme. Já não sinto mais medo, seu sorriso me tranquiliza. Agora posso compartilhar minhas dúvidas , alegrias e tristezas. Posso pedir colo e aconchego.
Minha avó permanece sentada na cadeira de balanço, narrando os fatos importante do seu jornal matutino.
Fico feliz em saber que na minha vida, posso abrir uma porta do meu coração e encontrar a doce presença dos meus avós. Desse modo tenho a certeza de que as lembrança só são necessárias e importantes, quando podemos buscá-las para o nosso equilíbrio e crescimento interior.
Texto: Roberto Passos do Amaral Pereira
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Olho o mar. Seu fascínio, mistério e beleza me fazem lembrar você. Afinal, quando lhe conheci foi assim como ver o mar pela primeira vez. Com um simples olhar me apaixonei.
A partir daquele momento, passamos a ser um só e a vivermos o doce sabor dos enamorados. Aos poucos, nosso amor de tão intenso começou a transbordar e assim sentimos que podíamos dividi-lo com outro ser. Deste modo, em seu ventre, plantei o fruto do nosso amor e paixão.
Tudo era felicidade. Fazíamos planos, sonhávamos acordados, vivíamos imensamente cada momento com muita paz e riqueza interior. Você, grávida, vivenciava sua plenitude de mulher, esposa e futura mãe. À noite, costumava encostar na cama e, com um largo sorriso, acariciar sua linda barriga e balbuciar palavras de carinho para o tão desejado filho.
Enfim, tudo era mágico e sedutor. Porém, como os desígnios de Deus são vedados aos corações dos homens, as asas do destino me surpreenderam e assim, numa manhã de outono, a sombra da morte pairou em nosso lar.
Hoje, após alguns meses e restabelecido um pouco o meu equilíbrio espiritual, é possível aceitar com mais tranqüilidade a sua passagem.
Felizmente, tenho em nosso filho um pouco de você e a certeza de que, através dele, continuarei a amá-la por toda vida.
Texto : Roberto Passos do Amaral Pereira
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Conservo na boca o doce sabor de aconchego, proteção e carinho do seio materno e relembro o seu olhar de ansiedade nas longas noites de vigília, durante minhas enfermidades infantis.
Ah! Que saudade do teco-teco na bolinha de gude, do papagaio a bailar no ar, do pião a girar, dos jogos de botão e futebol com amigos e irmãos. O vento ainda traz o som de meus primeiros acordes musicais, enquanto visualizo em meu corpo as marcas de minhas travessuras de moleque.
Tenho na memória o sorriso, atenção e determinação da minha primeira professora, que como uma fada transformava minha vida e em casa perpetuava na imagem de minha mãe que, com amor e cumplicidade, reforçava os ensinamentos enquanto preparava o meu almoço.
Da adolescência - em particular do difícil ano de cursinho, marcado por dúvidas, medos e inseguranças - mantenho viva a figura séria, contida e formal do meu pai, que sob forma de aula de O.S.P.B (Organização Social e Política do Brasil) transmitia seu imenso amor.
Bem, sou um homem de meia-idade, e como dizem alguns, na idade do lobo, e trago dentro de mim um pouco desses momentos. Aproveito a oportunidade para agradecer aos meus filhos pela possibilidade de através deles, poder reviver a criança adormecida no meu inconsciente, e a minha companheira pela coragem de crescer junto comigo na difícil, porém gratificante, caminhada da vida a dois.
Sinto-me feliz pela oportunidade do amanhã. De poder rever meu beija-flor amigo que, mesmo nesse caos urbano, sempre visita a minha janela, de admirar o sorriso de esperança das crianças nos parques e de ver nos olhos os pensamentos mágicos de cada adolescente que caminha em direção à escola, e o semblante de sabedoria de cada idoso, feito de dores e alegrias que são evidenciadas em cada ruga.
Hoje, tenho a certeza de que possuo a consciência e a maturidade necessária para pintar o quadro da vida com cores do afeto e da emoção e, assim, viver as sutilezas do cotidiano como um verdadeiro aprendiz do amor.
Agradeço a todos os amigos e também a meus inimigos, se é que os tenho, companheiros dessa longa viagem.
Texto: Roberto Passos do Amaral Pereira
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