Hiato No Tempo

Ao entardecer,
numa piscadela do tempo,
capricho ou descuido dos deuses,
sol e lua se encontraram.

Dama de fragrância singular,
a lua irradiava sensualidade
e flores no olhar.

O sol transcendia.
Olhos marejados,
versejava desejos
que a boca estagnada escondia,
ou não sabia expressar.

Lua em fase crescente,
numa elegância discreta,
fazia festa por sol.

Borbulhava magia do ar.
A rua parecia deserta.

O sol se abrasava mais e mais.
Acariciava o rosto da lua,
que lacrimejava mosaicos sentimentos.
Revivia poemas adormecidos.

O tempo que parecia infinito,
deu grito de razão.
Sol e lua se despediram.

Agora rezam para o próximo hiato no tempo.
Um novo sopro divino.

Texto : Roberto Passos do Amaral Pereira.
Imagem : Google

Melodia

O violão dedilha tuas medidas.
A garrafa de vinho envelhece solitariamente.
O mar sonha com tua contemplação.
A rede da varanda anseia teu balanço,
meus braços abertos, teu corpo,
a cabeça, teu ombro.
São Francisco está cansado dos meus pedidos.
Com tua ausência os versos perdem a rima.
Tua melodia é eterna.


Texto: Roberto Passos do Amaral Pereira.
Imagem: Google

Assombramento

Rasgo a quietude da madrugada.
A luz antiga do quarto dos sonhos
não me deixa dormir.
Assombra a leveza d'alma.

A lua revela sentimentos.
Estrelas passeiam lembranças.
Uma canção convida.
Anuncia reflexões.

Em tempo de ausência,
esparramo conflitos.
Há aspereza nas dúvidas
em luvas de gestos insanos.

Mesmo diante da arte do disfarce,
existe a linguagem do corpo.
Desdobram desejos.
Ardem saudades nos dedos.

Texto : Roberto Passos do Amaral Pereira
Imagem: google.

Brinde

Desejam escorrem das mãos
como águas transparentes e puras,
e com leveza de pássaro
repousam nas linhas e traços.
Anjos caminham nos ombros.
Banho- me de taça de vinho tinto.
Em seus braços,
com flores, versos e incensos,
brindo nosso encontro,
nosso intenso poema de amor.

Texto: Roberto Passos do Amaral Pereira.
Imagem: Google

Avó

Nas noites de lua,
lembranças chegam sorrateiramente:
cadeira de balanço
cristaleira
bife com molho especial
canto do cuco no relógio de parede
gosto e cheiro do doce de mamão cristalizado
confecção de bolo e a caixa de música nos aniversários
ritual na aplicação de injeção
penteadeira com pó de arroz
criação de galinha
cactos na janela
velha parreira
canário- belga
leitura diária do jornal em voz alta
Bate uma saudade da avó materna
da voz firme, mas carinhosa.
Tempo que passou
e eternizou.


Texto: Roberto Passos Do Amaral Pereira.
Imagem : Google.

Pedidos

Vem, diz bom dia!
Traz incenso de canela,
a ironia sofisticada,
um pouco de loucura,
o sorriso franco,
o poema dos olhos,
a doce textura dos lábios,
fale a língua dos anjos,
sonhe meus sonhos,
mergulhe em meu silêncio,
espante demônios,
não esqueça o laço de fita,
deixe flores na janela
e deite comigo nesta vida.

Texto : Roberto Passos do Amaral Pereira.
Imagem : Google.

Amor

Se explicar, complica.
Se decifrar, perde a graça.
Desafia o mensurável.
Quando dura não se calcula.
Merece todos os desafios.
Aceita os defeitos.
Provoca arrepios na pele.
Frio na barriga.
Não tem hora.
Nem preço.
Não necessita de prova.
Mas merece todos os beijos.



Texto: Roberto Passos do Amaral Pereira.
Imagem : Google

Nota : Poesia inspirada na Crônica de Flavia Dalla Bernadinha publicada no jornal A Gazeta, em 2 de abril de 20011.

Canção De Amor

Quem havia de dizer,
mesmo por descuido ou displicência,
e se puder sem medo de errar,
que sempre não é todo dia,
que não existe poesia em nossos encontros.
Não há segredo nenhum,
somos rios descobertos,
no tempo das águas, vinhos tintos e lágrimas.
Por brilho em travessuras,
tu és lua e flor,
minha canção de amor,
a fruta orvalhada de estrela
ao som dos Bandolins.

Texto: Roberto Passos do Amaral Pereira.
Imagem: Google


Nota: A poesia foi elaborada a partir dos títulos das letras das músicas de Oswaldo Montenegro.

Nó

Quando minha cabeça dá um nó,
só você desata,
abate minhas neuras,
sorri, respeitando minhas besteiras,
me faz ver, perceber meu próprio umbigo,
e ser um homem melhor.


Texto: Roberto Passos do Amaral Pereira.
Imagem : google.

Assalto Amoroso

Sonhei que lhe roubava um beijo.
Acordei com o seu gosto em minha boca,
sua voz em meus ouvidos,
seu cheiro em mim,
e humedecido de vontades.
Voltei depressa para o sono
e travesseiro,
para o passeio no leito do seu rio.

Texto: Roberto Passos do Amaral Pereira
Imagem :ersosperfumados.blogspot.com (google)